Por Camila Nasser e Helena Ribeiro
Na mitologia popular, os unicórnios são seres incríveis e raros. Foi pensando nisso que cunharam o termo para as startups que atingem uma avaliação de US$ 1 bilhão, e, desde então, o status de empresa unicórnio se tornou um dos maiores e mais desejados selos de sucesso dentro de uma startup. Se você criou, trabalhou ou investiu em uma empresa que acabou por se tornar um unicórnio, você foi/é considerado bem sucedido. Atualmente, o mercado vê uma queda de formação de unicórnios, uma vez que o fluxo de capital para o late stage diminuiu, e as marcações de valuation estão sendo ajustadas.
Mas se os unicórnios voltam a ser mais raros, não podemos cair na falácia de que esse status que poucos conseguem é o marco do sucesso. Para começar, toda a premissa de que o valor de um negócio depende da marcação do valuation dado por um investidor é equivocada: valuations muitas vezes seguem premissas subjetivas, existem alguns conflitos de interesse de fundos que marcam suas startups como unicórnios, tendo já investido no negócio em rodadas anteriores (e portanto valorizando a própria participação) e claro – não faz sentido para todo negócio o tamanho e estrutura que os unicórnios demandam.
E então, por que caçamos unicórnios? Para elencar alguns motivos:
- O fundo de Venture Capital de grande porte realmente precisa de grandes negócios
Muitas das startups precisam captar investimento ao longo de suas jornadas para conseguirem validar suas teses, crescerem e ter sucesso. Então é essencial a capacidade dos empreendedores de atraírem investidores.
Aqui entra o modelo de retorno esperado pelos fundos de Venture Capital - financeiramente, para os VCs de grande porte, para um investimento fazer sentido ele deve retornar o tamanho do fundo total. O conceito, conhecido como Fund Returner, foi apresentado como a regra dos Venture Capitals pelo Peter Thiel em seu livro Zero ao Um:
“The biggest secret in venture capital is that the best investment in a successful fund equals or outperforms the entire rest of the fund combined.
> This implies two very strange rules for VCs. First, only invest in companies that have the potential to return the value of the entire fund. This is a scary rule, because it eliminates the vast majority of possible investments. (Even quite successful companies usually succeed on a more humble scale.) This leads to rule number two: because rule number one is so restrictive, there can’t be any other rules.
Pether Thiel - Zero ao Um”
Fund Returner - Cálculo
Valor total do fundo = Valor do retorno = (% do fundo na empresa no momento do investimento - diluições) * valor da empresa na venda
É importante incluir no cálculo as possíveis diluições também - quanto mais cedo no estágio o fundo atua, mais diluições a sua participação passará ao longo do tempo (e rodadas subsequentes).
Digamos que um fundo de U$150 Milhões investiu em uma startup em troca de 10% de participação em uma Série A. Ao longo dos próximos anos, a posição do fundo foi diluída em 20% e então no momento de saída, o fundo precisa que o negócio valha U$ 1.875 bi para retornar o seu valor total:
U$ 150 Milhões = (10% * 0.8) * valor da empresa na venda
Valor da empresa na venda = U$ 1.875 bi
Nos últimos anos, em especial em 2021, vimos o mercado levantando fundos de alto volume. As implicações desse movimento são claras: a nova leva de negócios nos próximos 10 anos precisarão atingir valores que superam os 9 dígitos, ou os valuations serão reajustados de forma que a % dos VCs nos captables sejam mais relevantes.
- O papel da mídia
Precisamos entender que vivemos a era da avalanche das informações: informação o tempo todo, de todo mundo, em todo lugar. Aqui, a receita para a diferenciação de uma notícia muitas vezes é nosso conhecido “big numbers”, “sensacionalismo” ou “clickbait”. Sem juízo de valor aqui, é o jeito em que o mundo funciona. E, portanto, as startups unicórnios viraram pautas recorrentes, histórias de exemplo que são repassadas e que fortalecem a mitologia do empreendedorismo.
O status virou um sonho empreendedor, o carimbo de sucesso que nós internalizamos para buscar…E aqui, faltam talvez os exemplos mais diversos: as histórias menos contadas dos empreendedores que não entraram na trilha do Venture Capital tradicional, mas valorizaram seus negócios em 5-10x.
Porque para além dos unicórnios, existem outros caminhos de grande êxito aos empreendedores - e que deveriam ser igualmente celebrados. Nem todo negócio nasceu para retornar o valor de um fundo de > U$ 100 Milhões. E nem todo investidor busca isso: temos dos Micro-VCs aos Operator Angels. Dos grupos de investidores aos Mini-IPOs via crowdequity. Um mercado de investimentos de risco plural e cada vez mais desenvolvido para impulsionar os diferentes tipos de negócios.
*Camila Nasser é cofundadora e CEO do Kria, plataforma de investimentos em startups, e Helena Ribeiro é do time de Marketing e Comunicação do Kria, sendo responsável pela "News da Le", que atinge mais de 20.000 pessoas semanalmente.
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Fonte: Seven PR
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