Por Julio Gavinho
Michael Joseph Jackson foi um famoso cantor, compositor, dançarino, produtor, empresário e filantropo norte americano. Segundo a revista Rolling Stone faturou em vida cerca de sete bilhões de dólares fazendo dele o artista mais rico de toda a história. Esteve no Brasil por três vezes, sendo a mais notória para gravar o clipe de “They don’t care about us” na favela Dona Marta, no morro de Santa Marta. Até ergueram uma estátua do popstar no mesmo lugar do clipe, uma no após sua morte.
A obra, produzida pelo artista plástico Estevan Biandani, retrata o cantor com o mesmo visual deste clipe, olhando pela favela. A laje também ganhou um mosaico do cantor feito pelo Romero Britto. O espaço que antes já era chamado de "Laje Michael Jackson" recebeu o nome do cantor oficialmente.
Esta semana, uma foto da estátua do cantor com um fuzil AR15 pendurado no pescoço, circulou pela internet e logo viralizou mundo afora. Atribui-se a traquinagem a quadrilha do bandido “mãozinha”, supostamente caçado pela polícia do Rio.
Interessante que este morro e seus bandidos estão sempre aí, na mídia com seus feitos “heroicos”, como já retratou o Caco Barcelos no seu fabuloso livro “Abusado”, nunca tão atual quanto hoje. Agora, o trafico recrutou o pobre Michael, post mortem.
Ok, vamos cut the crap, como dizem os sumidos (ou fugidos) turistas norte americanos.
Rio é o cartão de visitas do Brasil turístico. O que acontece no sovaco do Cristo repercute como uma caixa de ressonância em todo o Brasil, no que tange publicidade. O que acontece com a sofrida população carioca repete-se no que acontece com turistas, em todas as circunstancias possíveis. Somos todos, locais e gringos, vitimas da mesma miséria. “Miséria é miséria em qualquer parte”, nos ensina o Paulo Miklos.
Chega de pombas brancas, chega de passeata, chega de político acusado ou condenado por corrupção lambendo a miséria deste povo. O carioca não tem mais a quem recorrer, senão aos espectros do MP que ainda mantém uma pouca dignidade no trato com a coisa pública. Não podem meus conterrâneos, contar com a polícia que está entregue as baratas e que foi tratada com raiva pelos governos de esquerda. Quer confirmar minha tese? Visite o caustico hospital da PM para onde vão policiais e familiares em caso de perfuração à bala ou de resfriado nos filhos. Não iria tão longe a ponto de dizer que este abandono empurrou a massa grossa da PM do Rio à criminalidade, mas vá: “pau que dá em Chico dá em Francisco”.
Se a miséria empurra o jovem favelado para a criminalidade, porque não o servidor de 19, 20, 21 anos, com uma arma na cintura? Estamos na hora da verdade. Como no título e na violência sociológica do filme "Precisamos falar sobre Kevin" de 2011, aonde uma mãe (turismologa!) enfrenta o inferno de viver na comunidade aonde seu filho atirou e matou colegas e professores da escola, precisamos falar sobre o Rio de Janeiro. Chega de romantismo idiota para reerguer o lugar mais belo do mundo. Olhemos o Rio como ele é: chega de esconder a maldade e vilipêndio de seu povo embaixo do tapete de uma cansada beleza que já não encanta nem audiência de novela. Só a intervenção federal ampla oferece o horizonte plausível.
Na minha época de Rio Convention & Visitors Bureau, entre 93 e 97, rodávamos o mundo promovendo o Rio e suas belezas, mas já sabíamos que a natureza não encheria a barriga de um setor produtivo inteiro. Por isso criamos o conceito de capital tropical da cultura com música, arquitetura, história e gastronomia para fortalecer um destino completo e não um balneário. Depois, junto com a EMBRATUR (saudades do Caio Carvalho), demos outra volta no mundo com o programa "My Rio" aonde mostrávamos uma cidade de todos os sotaques, todas as vontades e diversa social e culturalmente. Fomos um grupo pequeno, quase quixotesco, capitaneado por grandes empresários como o João Nagy e Chico Havas, e apoiados pela VARIG e pelas embaixadas do Brasil na yellow brick road do mundo.
Se eu fosse sair em road show de novo, para vender o Rio junto aos grande operadores e organizadores de eventos internacionais, não saberia o que dizer. Ficaria mudo, tal qual aquela dona Eva do filme. “Let”s talk about Kevin”?
Não: Let’s talk about Rio.
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Autor: Julio Gavinho é executivo da área de hotelaria com 30 anos de experiência, fundador da doispontozero Hotéis, criador da marca ZiiHotel, sócio e Diretor da MTD Hospitality
Fonte e foto: Vervi Assessoria de Imprensa - www.grupovervi.com.br
Let's talk about Rio
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